Imagina só...

Imagina só, depois de um dia de trabalho
Do cansaço para garantir o futuro
Eu e você, deitados, e nossos pés falando por nós.

Imagina só, depois do Natal em família
Da ceia, da conversa, da hora passada
Eu e você, deitados, e nosso olhar enamorado

Imagina só, depois de trazer o filho da escola
A correria, a animação, as histórias contadas
Eu, você e ele, deitados, lendo outras histórias.

Imagina só, depois de viver uma vida toda
A felicidade, o choro, a vitória, o amor
Eu, você e eles, eternamente apaixonados.

Imagina só...

Eu em ti, onde?

E foi tanto faz
Tanto fez
Que hoje não sei mais
O que ainda resta
E o que se foi.

Diga-me o que pretendes
Suas entrelinhas são tortas
Seus versos, desorganizados
O que serei eu em sua poesia?

Controvérsias de uma conversa paralela

Tudo o que a gente precisa na vida é de um amor.
Um amor.
Dois amores.
Três amores.
Dez amores.
E tá bom. Não podemos colecionar amores.
Se não for seletivo, não há de ser bom. Quer saber o porquê? As pessoas não sabem quando parar. Nem quando coleciona nem quando é colecionado.
Veja bem, há quem diga que é amigo de todo mundo. Mentira.
Nem todo mundo te aceita como amigo. Verdade.
Não colecione amores. Seja seletivo.
Mas, cuidado!
Não faça acepção de pessoas. Seja quem você é, e só.

Um Sherlock

Enxergue a minha dor, então poderás dizer quem eu sou.

Procure por meu sucesso, então entenderás como penso.

Encontre meus anseios, então conseguirás ver quem serei.

Desabotoe meus botões, aqueles que pensam como ninguém. Desabroche em mim - sim, você - o amor. Adentre em meu coração e, por obséquio, permaneça. Bagunçado, adoidado. Peças foras do lugar e, às vezes, sem encaixe. Desenrole os papeis de décadas passadas. Discursos nunca ditos. Promessas nunca realizadas. Procure devagar, sem pressa. Talvez você até pense em ficar. Talvez você mude de ideia e volte depois. Ou talvez vai embora para nunca mais. 

Lembre-se: complemento não é completar. Ser. Estar. Permanecer.

Há quem diga

Perdoem-me a minha eterna sensibilidade. Ou talvez insensata sensibilidade. Ou a insana. Quem poderá defini-la? Um dicionário? Ah, por favor, não preciso disso. Há quem diga que nunca chorou. Minha mãe já dizia que se uma mosca passasse e olhasse feio para mim, eu não pensava duas vezes em estar a chorar. Pobre mosca. Pobre menina. Há quem diga que nunca precisou de ninguém. Oh, pobre Rousseau que apresentou a fraternidade. Mas, sabe o que acontece? Pisou no calo doeu. Há quem diga que está feliz all the time. Dá até vontade de jogar um pouco de carvão nesse arco-íris. Se é que já não há. Há quem diga que nunca amou. Pior mentira do mundo: a de mentir para si mesmo. A começar pelo amor próprio. Confesso que alguns realmente não almeja se amar, nem o faz. Mas sempre há amor. Em tudo. A vida em si. Há quem diga que a vida é uma balança. É como uma bicicleta - como sempre ouvi, desde criança. Se parar? Cai. E o que é isso? Física. Não, pere. Equilíbrio. Sim, física. Não, pere. Isso é vida. Sim, vida. Em tudo, equilíbrio. Perdoem-me minha insana sensibilidade. 

Não me contaram!

E aí está o amor, sem pedir licença.

Minto.

Ele é muito educado. Perguntava-me o que eu desejava, onde eu queria estar e o que eu queria mudar.

Também fui educada e lhe respondi: você, com você e tudo.

E aí está o amor, espetando.

Que absurdo.

O amor não fere. Quem te enganou? O amor é a excelência, em tudo. Traz consigo o que há de melhor. O problema não está no amor, mas quem dele não sabe ser.

E aí está o amor, chorando.

Quanta tristeza.

Onde está tua alegria? Não fere o que não pode te machucar.

E aí está o amor, desafiando.

Quanta ironia.

Não carregue no colo quem sabe andar. O amor não arrasta, mas caminha junto.

E aí está o amor. 

Onde?

Em nós.

Mania Droga

Droga mania de se alojar e ir embora como se não quisesse nada.
Cadê a paz que me prometeu e o sorriso que sempre me deu? Cadê aquele abraço que me envolvia por inteira e dali não queria sair? Cadê os anseios que faziam nos querer a todo instante?
Droga mania.
Aqui não se faz como quer. Aqui tem coração, aqui tem dono.
Aqui tem espaço pra você também, se você quiser ficar.
Quero um sorriso de lado a lado, de norte a sul. Quero um abraço que caiba tudo o que tenho na bagagem. E por falar em bagagem: fica com o meu coração. É o pouco que tenho e o muito que te ofereço.
Mas não pensa em bagunçar. Aqui tem desejo. Aqui tem anseio.
Aqui tem sonho. E só mais um segredo: cabe você, cabe nós dois. Em tudo. Em meu coração, na minha bagagem e nessa droga mania.
Ah, mania de droga. De vício. Droga mania.
Fica.

Descobriram o descoberto

Descobriram nós dois quando já havíamos nos descoberto. Descobriram um olhar quando os nossos corações já se falavam. Descobriram nosso toque, quando já não havia distância. Éramos abraço, enquanto todo o resto se debatia...