Se me perguntassem o que eu mais queria, nem hesitaria: apagar as lembranças que me fazem mal. Ontem chorei. Chorei pelas lembranças amargas, chorei pela dor de te ver sem te ter, chorei pelo que um dia não fomos, chorei por um dia ter te amado...
Estava a passear pela praça, sentido a brisa em meu rosto,
ouvindo as crianças sorrirem, alegres por brincarem naquele pequeno parque.
Talvez seja isso, deveríamos valorizar o que é pequeno, o que é pouco, mas que
nos faz bem, feliz. Sentei-me no mesmo banco, aquele banco em que tudo
aconteceu. Retornei pela primeira vez, atordoado de sentimentos que estavam a
persistir e pisotear os meus pensamentos. Tinha em mão a carta que recebi naquele
mesmo banco, não era uma simples carta, era a carta que tinha mudado a minha
vida. E também a vida dela.
- Olha mamãe, tem um passarinho azul ali! – apontava uma
pequena de cachos bonitos, loiros, para a sua mãe.
- Olha ali, Liah, tem um amarelo, não é bonito? – Respondia-lhe a mãe, com entusiasmo.
- Olha ali, Liah, tem um amarelo, não é bonito? – Respondia-lhe a mãe, com entusiasmo.
A brisa ainda continuava, mas parecia que tudo havia
silenciado. Concentrei-me no que me importava agora, tocar naquela carta de
modo que todas as lembranças viessem à tona na mente. Por mais que a dor fosse
esmagadora, era daquilo que eu precisava, e assim o fiz. Tomei a abri-la,
minhas mãos tremiam, milhares de cenas tomavam a minha mente. Comecei-a:
“Querido Andrew,
Sinto muito por lhe escrever esta carta, mesmo sabendo tudo
que o que estivestes a passar foi por minha causa. Sei que o que fiz foi errado, mas nunca
foi minha intenção fazê-lo, nunca quis te magoar. Lembro-me de todos os momentos
que juntos passamos, de risadas bobas que fizeram as horas passarem tão depressa, de
carinhos e beijos que de alguma forma se tornaram únicos. Você também foi único
para mim. Talvez se eu tivesse te avisado antes, tudo seria diferente. Mas
estava com medo. Medo de você me deixar por isto, medo de te magoar, medo de te
perder para sempre. Não, eu não tinha noção de que pudesse agravar, mas
infelizmente aconteceu. Pedi que me levassem para o banco da praça, onde te
conheci, onde demos o primeiro abraço, o primeiro beijo, onde víamos aquelas
crianças brincando, olhando os pássaros e as folhas a caírem ao chão. Foram
momentos mais que incríveis, nada vai substituir o que passamos juntos, o que
um dia nós fomos. Hoje estou aqui, sem sequer poder mover o meu braço, a minha
perna, mas não poderia deixar de te dar um último adeus. Mesmo partindo, quero
que saiba que você foi a minha melhor lembrança, a minha melhor saudade. Estou
indo, mas lembre-se em qualquer momento, aonde for, que o meu coração será
sempre teu. Ele não baterá mais, mas ele ainda pertence e sempre pertencerá a
você. Você se tornou o meu tudo, a minha vida, e nunca esquecerei o que um dia
você fez por mim. Você me deu vida, me deu ânimo, você se tornou a melhor parte
de mim; a parte que levarei comigo. Sinto muito por partir, preciso ir, só
espero que um dia você me perdoe.
Eu te amo, Andrew.
Claire, 22 de abril de 2000.”
Julie, a irmã de Claire, havia me entregado esta carta no
enterro. Um dia depois de escrita. Ela não poderia ter me entregue antes? Uma
hora bastava para que eu dissesse a Claire que ela é, e sempre foi, o amor da minha
vida. Hoje sigo em frente, escondido na minha rotina diária de casa e trabalho,
mas sei que sou melhor por causa dela. Nunca disse isso pra ela, mas no fundo,
ela sempre soube que a amava mais que a mim mesmo. Deixo meu relato aqui,
talvez como de um homem qualquer que perdeu a mulher de sua vida para o câncer,
não como um drama, mas para que as pessoas valorizem o que tem, antes que desmorone
e vire apenas brisa. Minhas lágrimas hoje não é por mágoa, mas por amor.
Assinar:
Postagens (Atom)
Total de visualizações de página
Tecnologia do Blogger.