quinta-feira, 29 de novembro de 2012 0 comentários
Se me perguntassem o que eu mais queria, nem hesitaria: apagar as lembranças que me fazem mal. Ontem chorei. Chorei pelas lembranças amargas, chorei pela dor de te ver sem te ter, chorei pelo que um dia não fomos, chorei por um dia ter te amado...
quarta-feira, 21 de novembro de 2012 0 comentários

Lembranças

Estava a passear pela praça, sentido a brisa em meu rosto, ouvindo as crianças sorrirem, alegres por brincarem naquele pequeno parque. Talvez seja isso, deveríamos valorizar o que é pequeno, o que é pouco, mas que nos faz bem, feliz. Sentei-me no mesmo banco, aquele banco em que tudo aconteceu. Retornei pela primeira vez, atordoado de sentimentos que estavam a persistir e pisotear os meus pensamentos. Tinha em mão a carta que recebi naquele mesmo banco, não era uma simples carta, era a carta que tinha mudado a minha vida. E também a vida dela.

- Olha mamãe, tem um passarinho azul ali! – apontava uma pequena de cachos bonitos, loiros, para a sua mãe.
- Olha ali, Liah, tem um amarelo, não é bonito? – Respondia-lhe a mãe, com entusiasmo.

A brisa ainda continuava, mas parecia que tudo havia silenciado. Concentrei-me no que me importava agora, tocar naquela carta de modo que todas as lembranças viessem à tona na mente. Por mais que a dor fosse esmagadora, era daquilo que eu precisava, e assim o fiz. Tomei a abri-la, minhas mãos tremiam, milhares de cenas tomavam a minha mente. Comecei-a:

“Querido Andrew,
Sinto muito por lhe escrever esta carta, mesmo sabendo tudo que o que estivestes a passar foi por minha causa. Sei que o que fiz foi errado, mas nunca foi minha intenção fazê-lo, nunca quis te magoar. Lembro-me de todos os momentos que juntos passamos, de risadas bobas que fizeram as horas passarem tão depressa, de carinhos e beijos que de alguma forma se tornaram únicos. Você também foi único para mim. Talvez se eu tivesse te avisado antes, tudo seria diferente. Mas estava com medo. Medo de você me deixar por isto, medo de te magoar, medo de te perder para sempre. Não, eu não tinha noção de que pudesse agravar, mas infelizmente aconteceu. Pedi que me levassem para o banco da praça, onde te conheci, onde demos o primeiro abraço, o primeiro beijo, onde víamos aquelas crianças brincando, olhando os pássaros e as folhas a caírem ao chão. Foram momentos mais que incríveis, nada vai substituir o que passamos juntos, o que um dia nós fomos. Hoje estou aqui, sem sequer poder mover o meu braço, a minha perna, mas não poderia deixar de te dar um último adeus. Mesmo partindo, quero que saiba que você foi a minha melhor lembrança, a minha melhor saudade. Estou indo, mas lembre-se em qualquer momento, aonde for, que o meu coração será sempre teu. Ele não baterá mais, mas ele ainda pertence e sempre pertencerá a você. Você se tornou o meu tudo, a minha vida, e nunca esquecerei o que um dia você fez por mim. Você me deu vida, me deu ânimo, você se tornou a melhor parte de mim; a parte que levarei comigo. Sinto muito por partir, preciso ir, só espero que um dia você me perdoe. 

Eu te amo, Andrew. 

Claire, 22 de abril de 2000.”

Julie, a irmã de Claire, havia me entregado esta carta no enterro. Um dia depois de escrita. Ela não poderia ter me entregue antes? Uma hora bastava para que eu dissesse a Claire que ela é, e sempre foi, o amor da minha vida. Hoje sigo em frente, escondido na minha rotina diária de casa e trabalho, mas sei que sou melhor por causa dela. Nunca disse isso pra ela, mas no fundo, ela sempre soube que a amava mais que a mim mesmo. Deixo meu relato aqui, talvez como de um homem qualquer que perdeu a mulher de sua vida para o câncer, não como um drama, mas para que as pessoas valorizem o que tem, antes que desmorone e vire apenas brisa. Minhas lágrimas hoje não é por mágoa, mas por amor.

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